Fiquei a conhecer o fenômeno Paraense "Tecnobrega", esse estilo musical que combina o velho brega paraense com as batidas electrónicas do Techno num som concebido por bandas locais para animar os bailes das ruas de Belém, através de alguns artigos que o antropólogo Hermano Vianna escreveu. Em Outubro, o artigo Cultura livre, negócios abertos que Oona Castro publicou no Overmundo despertou-me a atenção.
Segundo se podia ler aí, na medida em que pode ser visto como um modelo de negócios abertos que funciona à margem do direito de autor e das companhias discográficas – as músicas são distribuídas pelos próprios artistas aos camelôs (vendedores ambulantes) e DJs das festas e das rádios livres -, o tecnobrega tinha sido um dos casos escolhidos para um estudo internacional em curso do projecto Open Business que visava analisar as indústrias culturais da periferia do globo.
Na passada terça-feira, dia 29 de setembro, os resultados desse estudo coordenado pelo Centro de Tecnologia e Sociedade da Fundação Getúlio Vargas foram divulgados num workshop que decorreu no Rio de Janeiro e que para além do tecnobrega abarcou ainda a “produção cultural dos mercados musicais informais de anarco-punk e músicas de fúsion na Colômbia; a dinâmica dos mercados musicais informais na Argentina (chamamé, rock, hip-hop, folclore, entre outros); e o cinema nigeriano”. O jornal Folha de São Paulo publicou um artigo com o resumo das principais conclusões da pesquisa. Lamentavelmente, a peça só se encontra disponível a assinantes. É deplorável quando um texto promovendo a cultura livre, que só faz sentido com a livre disseminação das obras, é vedado ao público. A isto é que se chama emparcelamento do commons. Felizmente que houve alguém que se lembrou de publicar a notícia no Overmundo. Alguns dados interessantes:
Dos artistas de tecnobrega, 88% nunca tiveram nenhum contato com gravadoras. E 59% avaliam que o trabalho dos vendedores de rua têm influência positiva em suas carreiras.
O tecnobrega é a música mais ouvida no Pará. Em Belém, esse mercado é formado por 73 bandas; 273 aparelhagens (equipes de som que realizam as festas de tecnobrega); e 259 vendedores (de CDs e DVDs) que trabalham nas ruas da cidade.
O funcionamento: as bandas e DJs gravam de uma a quatro músicas num estúdio (normalmente caseiro). Mandam as canções para rádios e aparelhagens. Os camelôs compilam as músicas de maior sucesso em um CD e vendem nas ruas. O CD custa entre R$ 3 e R$ 4 (entre 1,10 e 1,50 euros) ; um DVD, R$ 10 (3,65 euros).
(…)
Segundo a pesquisa, o faturamento mensal total dos artistas com as vendas de CDs e DVDs é de cerca de R$ 2 milhões (730 mil euros).
Mas a música gravada é apenas o material de promoção para a principal fonte de rendimentos das bandas, os espectáculos ao vivo. A esse respeito, seria interessante saber qual o montante total das receitas geradas pelos concertos. Esperemos ficar a saber mais detalhes quando o estudo for publicado no site do projecto Cultura Livre. Para quem quer saber mais sobre tecnobrega, vale a pena a visita ao portal Bregapop. Lá se podem encontrar artigos, vídeos e músicas de grandes nomes do género como os Tecnoshow.
O vídeo que podem ver em cima é de uma festa do grupo de DJs SuperPop que ilustra bem o ambiente das aparelhagens de som em Belém. As imagens que acompanham este post pertencem a um set no Flickr do dinamarquês Henrik Moltke e foram tiradas em Outubro passado durante as filmagens de um documentário televisivo sobre copyright, estando disponíveis segundo uma licença CC-BY-NC-SA 2.0.
Fontes: remixtures.com, pointdomelody.com.br
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